“Hórus nasceu dia 25 de Dezembro da virgem Ísis”. Este é o início de um texto que circula pela internet e, mais recentemente nas mídias sociais nesta época do ano, especialmente.
O texto prossegue: “ O seu nascimento foi acompanhado por uma estrela do leste, que por sua vez, foi seguida por 3 Reis em busca do salvador recém-nascido. (...) aos 30 foi batizado por uma figura conhecida por Anup e que assim começou o seu reinado. (...)tinha 12 discípulos e viajou com eles (...)também era conhecido como Cordeiro de Deus, entre muitos outros. Depois de traído por Tifão, Hórus foi crucificado, enterrado e ressuscitou três dias depois.” Muitas pessoas que de alguma forma não se alinham ao pensamento judaico-cristão do final de ano ou desejam em algum nível, uma possível alternativa aos festejos do momento acabaram aceitando as ideias que o texto propõe. Antes de continuar, vamos observar o que o texto nos diz através da perspectiva egípcia.
Heru-sa-Aset (Heru, o filho de Aset) não nasceu no dia 25 dezembro. Em uma análise rápida do calendário egípcio, o episódio envolvendo a morte de Wesir ocorre em novembro do calendário gregoriano. É neste mesmo período que Aset engravida – logo, é improvável que haja um nascimento com um mês de concepção. Aset mantinha uma vida de casada com Wesir antes de sua morte.
Não existe menção a nenhum rei, muito menos três que tenham ido saudar o nascimento de Heru-sa-Aset. Quem assistiu a Aset durante sua tribulação foram outros deuses, como mencionado nas contendas de Heru-sa-Aset e Set. Outro ponto: a única menção a estrela dentro do universo egípcio tem a ver com a ascensão de Sirius, que marca o Ano-Novo (Wep Ronpet), aproximadamente em agosto no calendário gregoriano.
Batismo, tal qual se conhece, por imersão em água, nunca foi uma prática egípcia. Yinepu, talvez o que mais se aproxime do nome “Anup”, mencionado no texto, é um deus relacionado a mumificação. A ascensão ao trono de Kemet por Heru-sa-Aset se dá somente após uma longa disputa com Set. Inexistem menções a doze discípulos de Heru-sa-Aset ou viagens que tenham feito. Heru-sa-Aset é um deus com cabeça de falcão que, por consequência tem o falcão associado a seu nome e não um cordeiro.
Por último, não existem relatos de crucificações no Egito. Tifão, erroneamente associado com Set através da interpretação de Plutarco, não traiu ou matou Heru-sa-Aset, que nunca foi enterrado ou ressuscitou. O único deus que renasceu foi Wesir, para tornar-se o soberano do mundo invisível e propiciar a vida após a morte.
Diante de tudo isso, algumas perguntas podem surgir como: por que um deus necessitaria de batismo (uma prática inexistente) por outro deus com atribuições como as de Yinepu? Como Aset seria virgem se já era casada com Wesir? Por que haveriam crucificações no Egito quando esta era uma prática adotada por outros povos, como persas, macedônios e romanos? Se Heru-sa-Aset é um deus, qual a necessidade de mencionar idade somente para ele e nenhum outro deus egípcio?
Fica bem evidente, para qualquer pessoa com bom senso de que, mais uma vez, pesquisar em fontes confiáveis sempre é a opção correta a se seguir. Da mesma forma, se informar sobre uma cultura/civilização, antes de traçar qualquer tipo de paralelo ou criar alguma coisa não é um passo a ser ignorado. Todos procuramos respostas e para muitos, os festejos natalinos e a maneira que se apresentam não são satisfatórios – porém, não é através da fantasia e do desrespeito a outras civilizações e sua cultura que estas respostas serão obtidas.
** Fonte: Ortodoxia Kemética Brasil
https://www.facebook.com/Ortodoxiakemetica/posts/1112079455491839:0
** Imagem retirada de : http://cigarro-da.deviantart.com/art/Horus-255644978
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